nov172017
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Continuando com a última parte do especial do show em homenagem a Chester, feito pela revista Kerrang! o pessoal da revista também estava presente no show e fez um review completa da noite. Confiram a tradução.
Na última sexta-feira, o Hollywood Bowl viu o Linkin Park subir ao palco pela primeira vez desde o falecimento de Chester, com a ajuda e suporte de amigos, estrelas e toda a família Linkin Park. Kerrang! revive a noite, em celebração de uma pessoa muito especial…
Diz-se que uma família de quase 18.000 fortes não precisa de uma sugestão para o que acontece apenas momentos nesta noite. Uma batida icônica e no piano uma melodia familiar inicia-se. A luz brilha em um microfone vazio no palco do Hollywood Bowl em LA. O palco está vazio pois não há vocalista que possa tomar o lugar de Chester Bennington em Numb. Sem instruções ou guia, entretanto, aqueles que ali estavam para comemorar a sua vida sabiam exatamente o que fazer.
‘Im tired of being what you want me to be,’ eles cantaram em uníssono. ‘Feeling so fainthless, lost under the surface…’ A plateia carregou a música toda, enquanto Mike Shinoda, o guitarrista Brad Delson, o DJ Joe Hahn, o baixista Dave Farrel e o baterista Rob Bourdon tocavam atrás do microfone iluminado. Brilha entre um mar de lágrimas; lágrimas de raiva; lágrimas de alegria; lágrimas de união. Você sente calafrios, arrepios, aos montes. Numb é um dos hinos mais amados da banda – uma música sobre estar preso em um estado danificado da mente, sobre tentar se libertar da opressão de outra pessoa. A alma de Chester é liberada essa noite, mas não sem uma grave sensação de perda. Ele faz muita falta.
Numb foi a base para a grande colaboração com Jay-Z [Numb/Encore do Collision Course de 2004], mesmo o titã do hip-hop não estando conosco essa noite. Apesar da sua ausência, essa influência multi-gênero, multi-gerações do Linkin Park está por todo lado.
O show de hoje foi transmitido online para o mundo todo, dá boas vindas a vários convidados que apareceram para Chester para cantar 31 músicas ao curso de três horas; de heróis atuais como Machine Gun Kelly, Taka Moriuchi da ONE OK ROCK e Oli Sykes do Bring Me The Horizon a lendas do punk Sum 41, blink-182 e System Of A Down, é um grande tributo a queda de um gigante do rock alternativo. O líder Mike e os membros sobreviventes da banda de nu-metal de Agoura Hills estão aqui para “fazer Chester orgulhoso”. A mensagem mais cedo em Numb pareceu ser a de que ninguém pode substituir Chester. Não há vocalistas que sejam compatíveis com o seu tom, não há mensageiro para entregar o seu sentimento tão profundamente. Entre as vozes de fãs e iguais, há um exército que se recusa a deixar as suas palavras se silenciarem na noite.
“Chester! Chester! Chester!” o público grita antes de Mike retornar com o primeiro convidado da noite – Ryan Key, antigamente do Yellowcard. “Los Angeles, eu não tenho palavras suficientes para agradecer vocês por terem vindo.” diz Mike. “Fazer esse show é uma das coisas mais difíceis que já decidimos fazer.” Um vídeo montagem insiste que hoje não deveria ser sobre ficar “triste”.
Assim como a maioria das perdas de lendas, o suicídio de Chester em 20 de julho parece muito mais distante do que três meses, e ao mesmo tempo parece ser impossível que ele não esteja mais vivo. Você vê essas emoções nos rostos de cada casal presente, das pequenas crianças que dão socos no ar nos riffs enquanto estão nos ombros de seus pais, e nos viajantes solitários que vieram dos quatro cantos da terra. Em um dado ponto, Mike descreve isso como “montanha-russa”, na qual você não sabe se irá para a direita ou para a esquerda. Essa incerteza vaga no ar. Sendo uma celebração da vida e arte de Chester, é um momento para os fãs se juntarem, unidos novamente, como eles tem sido por tanto tempo, pela sua arte.
Silêncio preenchia o Bowl antes do início do show, como o silêncio de uma igreja antes do sermão. Um zumbido baixo permeia através dos corredores deste local com milhares vestindo camisetas de várias épocas do Linkin Park. Antes do show, fãs haviam acampado do lado de fora. Mike revela que durante as horas de ensaio na noite anterior, ele foi lá fora para conhecer e abraçar eles. Ele explica que eles deram a ele coragem para fazer isso. Eles falaram a ele que tudo ia ficar okay. Hoje, falar com eles é difícil, não porque eles não querem falar, mas porque muitos deles não conseguem formar palavras. Eles sofrem para formar sentenças sem chorar.
Alguns foram ao santuário fora do portão principal onde os fãs deixavam mensagens de solidariedade e lembranças no mural. ‘Sentimos sua falta,’ muitos diziam. ‘Obrigada por ser grande parte da minha vida.’ Em uma das mensagens se lia, “Lendas nunca morrem.’ Quem participou levou fitas com letras de músicas nelas. Um cara chamado Mitch, com uma guitarra presa as costas está rabiscando uma tattoo desenhada por ele no seu braço com o logo do ‘LP’ com uma abelha próxima a ele. Durante o show de hoje passará um vídeo com Chester se dirigindo ao público em 6 de julho em Birminghan após o atendado terrorista a Manchester Arena. Ele fala sobre usar brincos com abelhas para lembrar daqueles que morreram, a abelha é um símbolo de Manchester. Chester fala a multidão que o amor destrói o ódio. Ele os instrui a virar para a pessoa ao lado e dizer ‘eu te amo’. Sentindo a sua presença ali, todo bundo no Bowl participa. ‘Eu te amo,’ disse um cara próximo a K!. K! Disse ‘eu te amo’ em retorno.
Mitch veio de Manchester e está hospedado em um hostel com um grupo de fãs que ele acabou de conhecer vindos da Alemanha. Ele disse a Kerrang! Que a música é o seu alívio para os problemas da saúde mental. Ele perdeu o seu padrasto Mike para o suicídio aos 11 anos de idade e escreveu músicas para o ajudar a superar isso. Hoje enquanto esperava aqui, ele se sentiu inspirado para escrever uma música. Quando percebeu, fãs estavam se juntando a ele. ‘Esse evento é tão importante para a conscientização sobre a saúde mental,’ ele disse. E ele está absolutamente certo.
Durante o show as câmeras focaram em tantos rostos masculinos. Caras com os olhos fechados, murmurando cada frase, sentindo cada momento. Para eles, Chester foi um amigo nas sombras das suas próprias lutas mal entendidas. Ele foi uma estrela que desafiou a ideia de que homens não podem ser vulneráveis e emocionais. O DJ que abriu o show também estava as lágrimas. Ele tocou a música Show Me How To Live do Audioslave, com a poderosa voz de Chris Cornell, um amigo próximo de Chester, cujo suicídio teve um profundo impacto no vocalista do Linkin Park. Se hoje puder trazer uma clara percepção sobre as batalhas diárias dos outros, será uma homenagem que fará Chester sorrir. Antes da pausa, a sua esposa Talinda falou e repetiu: “Foda-se a depressão.” Ela diz que Chester diria que os fãs do Linkin Park são os melhores. “Ele está absolutamente certo,” ela diz. “Nas últimas 14 semanas vocês levantaram um ao outro. Vocês me levantaram. É hora de reconhecer que a saúde mental é tão importante quanto a saúde física.”
Há uma transcendência no jeito que Mike, os convidados e os fãs ecoam os pensamentos de Chester pelas músicas. ‘If you need a friend there’s a seat here alongside me,’ [Se você precisa de um amigo tem um acento aqui do meu lado] canta Mike durante Roads Untraveled, de alguma maneira sem desabar. Um dos elementos mais difíceis de cantar essa música é o quanto as palavras agem como uma premonição para o que viria a acontecer. Um convidado em especial, Alanis Morissete, usou a sua apresentação para fazer uma declaração importante. Ela escreveu uma música após a morte de Chester chamada Rest [Descanse]. Depois de cantar Castle Of Glass com os membros do No Doubt, ela cantou a nova música. Na letra continha: ‘He’s been hurting for a while / Can we cut this man some slack / Let him lie down.’ [Ele está sofrendo há um tempo / Podemos dar a esse homem alguma folga / Deixe-o deitar-se]
“Há muita calúnia sobre pessoas com depressão,” ela diz. “É uma jornada de isolação e desafios a se passar. Eu quero oferecer empatia a todas as pessoas públicas e a você aqui.” A honestidade de Chester foi tão forte e brava, todos sabiam pelo que ele estava passando. O amor da sua família estendida não pôde o salvar. A esperança, entretanto, é que os seus mantras e a sua força irá resgatar outros do desespero.
“Nós deveríamos nos divertir!” diz Mike, lá pelo meio do show. “Eu penso sobre Chester e isso é o que ele iria querer.” Ao longo da noite, o co-vocalista de Chester nos levou em uma celebração estridente de músicas alternativas em geral. Entre o luto há luz. Durante um vídeo chamado Unicorns and Lollipops [Unicórnios e Pirulitos], Chester é filmado nos bastidores e cantarolando uma música boba. A plateia ri, apreciando o seu senso de humor, lembrando dele do jeito certo. Eles começam a cantar junto. “Vocês estão cantando junto a um vídeo do YouTube?” pergunta Mike, voltando ao palco. “Se é esse o caso, vocês nem precisavam da gente aqui hoje.”
“A verdade é, foi preciso muita bravura para os cinco membros restantes do Linkin Park chegarem aqui. Eles fazem isso com um valor insuperável, com suporte dos convidados e vídeos tributos como de Paul McCartney, Jared Leto e Metalicca. Errando a introdução de Battle Symphony, Mike interrompe e diz, “Foda-se! Vamos começar novamente. Chester não aceitaria essa merda.” O momento mais difícil para ele é lembrar sobre quando ele descobriu sobre a morte do amigo. “Nós iríamos fazer uma sessão de fotos” ele diz. “Por horas eu fiquei em descrença. Eventualmente eu percebi que tocar música me ajudava a superar algumas coisas.”
Oito dias após a morte de Chester, Mike escreveu uma música chamada Looking For An Answer [Procurando Uma Resposta]. Ele tocou ela pela primeira vez aqui. “Eu não sei o que vai acontecer com essa música,” ele diz. “Se nós continuarmos, eu quero continuar construindo ela.” Ele a descreve como artigo inacabado, algo sobre como as ideias do Linkin Park se formam. ‘Is there sunshine where you are? / The way that was when you were here,’ [Há um raio de sol onde você está? / Do jeito que havia quando você estava aqui] ele canta com uma batida de piano despojada.
O peso disso, entretanto, não cai diretamente sobre os ombros da banda. Os convidados também são pessoas que Chester teria aprovado. Eles variam de cantores pouco conhecidos à camaradas que passaram por tudo com ele. Steven McKellar da banda Civil Twilight teve a maior noite da sua vida no palco cantando Nobody Can Save Me. Isso veio como resultado de uma mensagem que Mike recebeu da esposa de Chester, Talinda. “Chester amava a sua voz,” ela escreveu. Mike perde as palavras introduzindo Gavin Rossdale do Bush para cantar Leave Out All The Rest. Taka do ONE OK ROCK voou do Japão. “Coloquem as mãos pra cima!” ele gritou antes de começar a cantar Somewhere I Belong.
M. Shadows do Avenged Sevenfold depois aparece para Burn It Down e Faint.
Um dos momentos mais tocantes vem com a Sydney Sierota do Echosmith em Waiting For The End, ou Julia Michaels e Kiiara cantando Heavy, vocalistas que carregam o legado de Chester para uma nova geração de ouvintes. Quando Oli Sykes aparece para Crawling, Mike lembra que a primeira vez que ele apareceu na Kerrang! Foi como um membro da plateia do Linkin Park em Londres. “Agora ele tem as capas da Kerrang! para ele mesmo,” ele ri.
É a chance de conquistar as glórias passadas, que realmente são as cordas do coração. Antes dos membros do System Of A Down entrarem, Mike revela que o Linkin Park tocou o seu primeiro show no Whisky abrindo para eles. Quando Deryck Whibley do Sum 41 entrou para The Catalyst, Mike diz que sua conexão passada significou que ele pode trazê-lo com aviso prévio 24 horas. “Nós somos todos família aqui, certo?” diz Deryck. “Vamos cantar juntos como uma família.” blink-182, liderados por Matt Skiba, fariam uma turnê com o Linkin Park esse ano. Eles começaram com o hit I Miss You antes de juntar as forças com o Linkin Park para uma versão de What I’ve Done.
“Tudo o que precisamos agora é uma música country. E depois um pouco de polca?” brinca Mike, partindo para uma pausa. Shadow Of The Day é transformada em um cover da música With Or Without You do U2; Talking To Myself vira All Along The Watchtower do Jimi Hendrix. Durante One More Light os braceletes distribuídos ao público ilumina o Hollywood Bowl. A rodada é banhada de púrpura e branco, como eles cintilam todas as palavras.
Nos momentos finais da noite, Mike apresenta “nossos convidados preferidos”. Ele se refere a multidão. Espelhando Numb, eles são convidados a cantar o refrão de In The End. Ao invés de chorar, uma mulher próxima a K! sobe nos ombros do amigo e eles sorriem docemente. “Ele é o Kurt Cobain da nossa geração,” diz o homem. “Ele ajudou muita gente em tempos difíceis e ele continuará fazendo.”
Durante o final do show em Bleed It Out, os convidados voltaram ao palco. “Nós não sabemos onde iremos,” diz Mike. O sentimento é mútuo entre todos. Em algum lugar nas arquibancadas, o espírito de Chester está nos guiando.