O site Pigeons and Planes abriu uma discussão sobre o cenário da música rock atualmente, onde ao seu ver “não presta e é deprimente” ao ser comparado ao antigo rock. Se você gosta desse assunto do que poderia ser o rock hoje e onde precisa melhorar é um ótimo artigo. Então, Mike Shinoda leu este artigo e resolveu comentar sobre o assunto e enviou um artigo falando sobre rock para eles.

Aqui postaremos os dois artigos traduzidos (tanto o feito pela Pigeons and Planes como o do Mike) para vocês ficarem por dentro do assunto e quem sabe ajudar a melhorar o rock ou ter uma melhor opinião sobre.


Artigo da Pigeon and Planes

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Artigo de Mike Shinoda – Resposta

“Dizem que os clássicos nunca sairão do estilo, mas eles irão… eles irão. De alguma forma, baby, eu nunca pensei que iria também …” – Refused, em ”Worms Of The Senses/Faculties Of The Skull”

Meu nome é Mike Shinoda; Eu sou compositor, vocalista, e integrante fundador da banda Linkin Park, e sou um visitante regular do Pigeons and Planes. Quando eu comecei a ler o artigo de Ernest Baker chamado “Rock Não Presta Agora e É Deprimente”, eu tive algumas reações. Eu entrei em contato com quem administra o site, e eles me pediram pra compartilhar com vocês aqui.

“O cara do Linkin Park visita esse blog?” você diz. Puristas da música indie poderão odiar isso antes de eu começar, simplesmente porque eu represento a música mainstream que eles acham que está em desacordo com a sua estética “independente” ou “underground”. Se esse é você, que assim seja; eu sei como você pensa.

Eu era da mesma maneira quando era jovem. Inclinei-me para (e ainda continuo) a música independente e underground. E então um dia, minha própria banda foi abraçada pelo mainstream, e eu fui obrigado a reconsiderar meus sentimentos sobre a situação. Eu lembro de um momento específico onde isso me impressionou: nós estávamos tocando de quatro a seis shows por semana quando nossa música “One Step Closer” começou a ser tocada nas rádios. Até esse ponto, nós estávamos tocando para centenas de pessoas por noite. De repente, esse número dobrou. Então quadruplicou. E em uma noite, eu olhei para o público e algo me fez pensar:

“Meu Deus, nós provavelmente temos fãs que amam a música que eu acho horrível.”

Quem me conhece sabe que eu não estou sacaneando os nossos fãs, a grande maioria eram (e são) legais. Eu estava vendo as pessoas em nosso show cantando junto com a nossa música, que não tinha nada em comum comigo, e isso me fez levantar questões sobre a integridade.

O que é preciso para equilibrar integridade e recorde de vendas?

Integridade é subjetiva. Números não são. Hoje, para aqueles de vocês que não estão a par das últimas do Linkin Park, nós não diminuímos o ritmo. Linkin Park é uma das maiores bandas no YouTube; somos a maior banda no Facebook, e ainda somos headliners na maioria dos festivais de rock do mundo quando entramos em turnê. Nós não tocamos hits clássicos em turnê como The Stones e Roger Waters, tocando shows nostálgicos para público de meia idade, entretanto nós estamos constantemente inovando, em estúdio e online com nossos fãs. Todo álbum que que lançamos nos últimos 10 anos estrearam como Número 1 em no mínimo 20 países.

Ainda, mesmo com as coisas ainda fortes e crescentes, não estamos no verdadeiro mainstream, o mainstream de Kanye-Taylor-Gaga. E nós realmente não queremos ser, tanto como indivíduos ou como uma banda. Nossos fãs sentam nas sombras, como pequenas células adormecidas em todo o mundo, com lealdade apoiando a banda em cada rodada. Rádio pop não tocam nossas músicas, e premiações nos ignoram. Nós não somos amargos, nós trabalhamos bastante para manter o delicado equilíbrio.

No artigo do Ernest Baker, aqui nesse site, ele escreveu: “O que é interessante é exatamente como a economia da música rock entrou em colapso durante os anos… Não é que eu não saiba sobre ou ouça a um impressionante, grande, independente, rock underground que ainda é lançado todos os dia. Mas o fato de que é dominante no underground e não no mainstream, é aí que reside o problema. Houve um tempo quando o rock teve um completo, indiscutível, sufocante domínio sobre todo o reino da cultura popular, e esse tempo não existe mais.”

Eu não tenho nenhum problema com as bandas que Baker citou — Fun., Vampire Weekend, e Mumford and Sons — em fato, eles lançaram algum dos melhores álbuns dos últimos anos. Mas eles não são quem eu penso quando penso em “rock”. Baker não incluiu enormes artistas como Linkin Park, Muse, Arcade Fire, Foo Fighters, Coldplay, Green Day, The Black Keys, Jack White, Fall Out Boy, Of Mice And Men, Nine Inch Nails, e centenas de outros. Mas não importa quais as bandas de rock que você está falar. Você pode fazer qualquer lista de bandas de rock populares por aí afora, e você verá que eles têm pouca influência, individualmente ou em conjunto, no zeitgeist.

Por que isso?

Acredito que nesses dias, mais que nunca, é difícil começar uma banda de rock. Quer começar a fazer rap? Puxe um instrumental no YouTube, e você terá uma música. Ser DJ? O software que você precisa já está em seu laptop ou está a alguns dólares e cliques de distância. Iniciar uma banda de rock exige um esforço mais complicado.

Primeiramente, está nos números. Acredito que nesses dias, mais que nunca, é difícil começar uma banda de rock. Quer começar a fazer rap? Puxe um instrumental no YouTube, e você terá uma música. Ser DJ? O software que você precisa já está em seu laptop ou é em alguns dólares e cliques de distância. Iniciar uma banda de rock exige um esforço mais complicado.

Faça a conta. Se você quer começar uma banda de rock, você precisa mais que proficiência e/ou talento excepcional em seus instrumentos. Você também precisa de algum tipo de produção ou experiência de gravação, ou o acesso a ele. Você precisa de química. Você precisa de um grupo de indivíduos que estão todos alinhados em sua visão do tipo de música que eles querem fazer. Você quer ser como os Yeah Yeah Yeahs? Rage Against The Machine? MGMT? Sua banda tem que chegar a um consenso geral sobre o que “credibilidade” e “integridade” significa. Você precisa ser capaz de escrever boas músicas juntos. E quando você finalmente começar a fazer músicas para alguém ouvir, você vai precisará ser capaz de entrar em um palco e reproduzi-la bem juntos. E para cada banda aspirante de rock com quatro pessoas que conseguem fazer todas estas coisas, há quatro DJs individuais e rappers que tentam fazê-lo também (e provavelmente terminar muito mais músicas, muitas vezes mais rápido).

Bandas de rock estão em menor número, e isso é apenas metade do problema. A outra metade encontra-se na cultura da segregação do rock- não nas mentes dos fãs, mas sim na das bandas. Nos bastidores, mais do que qualquer fã possa imaginar, existe hostilidade entre bandas de rock, mesmo que eles não digam isso. Pergunto aos meus amigos em outras bandas, e a sua história é a mesma. Um monte de bandas têm medo de se alinhar com outra em gravação e em turnê. Talvez seja um problema de credibilidade, ou um problema de esnobismo, ou talvez seja apenas porque as bandas de rock são solitárias. Seja qual for o caso, todos as outras em todos os gêneros populares conseguem, e eles estão colhendo os benefícios. EDM, rap, pop, e até mesmo artistas country estão passando de um álbum a outro porque a.) multiplica o interesse do fã, e b.) é divertido.

Este mês, a minha banda vai lançar uma música com Steve Aoki, que combina ambos os nossos estilos. E o nosso próximo álbum, provavelmente, não terá nada a ver com a música Aoki, ou até mesmo soar como o nosso álbum anterior. Porque a última, a outra metade do problema (sim, a terceira parte), é a mais importante de todas.

O rock precisa se arriscar e inovar. Quer comparar o crescimento do rock com outros gêneros? Ouça as produções de Rick Rubin dos anos 80 — que foi o símbolo da produção hip hop no momento — e compare-as com a variedade e cenário musical que Kanye West, Pharrell, Kendrick and co., A$AP Mob, Odd Future, Azealia Banks, e todos o resto estão usando hoje. Ouça uma música do The Prodigy ou Fatboy Slim do final dos anos 90, e então ouça a Zedd, Knife Party, Glitch Mob, Skrillex, Deadmau5, Major Lazer, Avicii, Daft Punk, e TNGHT. E pergunte a si mesmo: porque o rock não está fazendo isso? Claro, rock está evoluindo, mas simplesmente não tem a vibração que poderia – e deveria – ter.

Afinal, não se trata apenas de seguir em frente, é sobre a direção na qual você se move. O artigo de Baker não era apenas sobre “rock” como sendo um gênero menos popular. Rock é muito popular em um nível médio, o nível que não vira tendência mundial no Twitter e se fala tarde da noite em monólogos. Baker faz questão de que a música rock, em suas palavras, “amoleceu”. Onde está o rock que inovava, tinha energia, agressividade, catártico, e apaixonante? Onde está a explosão do The Shape Of Punk To Come? A ferocidade de Master Of Puppets? A ousadia de The Downward Spiral?

Uma garota do Japão me disse uma vez que estava preocupada sobre o homem da próxima geração ser o que eles chamam de “Soushoku Danshi”, ou “Sheep Boys”. Essa descrição foi inventada para descrever pessoas que são tanto “herbivoras” ou “carnívoras,” o primeiro grupo a ser descrito como suave, não-assertivo, e indiferente. Para mim, a música rock ficou um pouco herbívora.

Onde estão os carnívoros? No fim do dia, será nunca sobre uma música, um álbum ou uma banda. Um movimento exige que os líderes não descansem, sejam corajosos e insistentes.

Onde estão os carnívoros? No fim do dia, será nunca sobre uma música, um álbum ou uma banda. Um movimento exige que os líderes não descansem, sejam corajosos e insistentes. Eu estou em estúdio agora. Estou procurando maneiras de fazer isso a mim mesmo. Espero que os meus colegas e seus fãs também, porque é a única maneira que nós vamos ser capazes de forçar a Pigeons and Planes a escrever um post chamado:

“Tudo Exceto o Rock Não Presta e É Deprimente.”

– M. Shinoda

Fonte: Pigeons and Planes